quinta-feira, 24 de maio de 2012

VALSA DE AMARGO BATUQUE


VALSA DE AMARGO BATUQUE

                                         “Tu que da liberdade pós-guerra,
                                                                 Foste hasteado dos heróis na lança,
                                                                 Antes te houvessem roto na batalha,
                                                                 Que servires a um povo de mortalha!...”
                                                                                (Castro Alves — navio negreiro)                              

Passos lerdos, arrastados, quase lentos,
um cântico, um acalanto, um castigo,
um canto funeral de um sonho dantesco.
Memória anacrônica entre mitos e lendas
esculpidas da realidade, da poesia e do lamento,
cuspida a toa nas lembranças.
A inocência é amante cega da crueldade
e a intolerância filha bastarda de ambas.
Na tua pele negra sinta a língua inocente da chibata
Veja o teu sangue cruelmente colorir de vermelho o chão
e as tuas lágrimas de impotência e horror humilharem tua Fé.
Grite, e com toda força grite...
Pois estarás vendo a intolerância do sorriso sórdido.

Façamos um paralelo:
Na noite crua
A pele branca solta no ar
A lua desperta a brilhar
E um estalar de açoite queima o ar e rasgar a carne nua
O sangue que brota da pele branca desenha o ardor.
Não haverá sorriso, nem celebração.


A música da Morte, a nebulosa, 
estranha, imensa música sombria, 
passa a tremer pela minh'alma e fria 
gela, fica a tremer, maravilhosa ... 
Onda nervosa e atroz, onda nervosa, 
letes sinistro e torvo da agonia, 
recresce a lancinante sinfonia 
sobe, numa volúpia dolorosa ... 

Sobe, recresce, tumultuando e amarga, 
tremenda, absurda, imponderada e larga, 
de pavores e trevas alucina ... 

E alucinando e em trevas delirando, 
como um ópio letal, vertiginando, 
os meus nervos, letárgica, fascina ...
(Cruz e Souza – musica da morte)
 

A favela e suas senzalas... Errado,
Povos negros despejados do tempo em resistentes quilombos,
E a casa grande gloriosa continua edificada,
O movimento é estático.
 Nossa covardia escondida em palavras gritadas,
Escritas nos muros noturnos,

Negros a fugirem,
 de quê, de onde, de quem,
a policia de hoje é o capitão do mato aparelhado
sabe muito bem  te responder com sangue.

POVOS NEGROS DESPEJADOS DO TEMPO.

Farfalhar de vozes,
Um estampido surdo,
Silêncio profundo,
Mais uma vala completa.


Há escravidão nos olhos cegos dos mortos,
Cicatrizes que eternamente carregaremos
Dentro da alma dos nossos antepassados.

Se o movimento é estático
Seremos para sempre dentro do contexto social
Uma fotografia em degrade
Abandonada na sincronia perdida da vida... (?)













segunda-feira, 21 de maio de 2012

PARABOLIZAR


            PARABOLIZAR
O que te acende...    Apaga-me
Vozes sopram meu cérebro.
Meu apego às coisas idas,
De palavras que se fundem nas paredes
E entre fumaças se desfazem.

Nada morre em que nada vive,
Ilusões temporais ou temporâneas,
Não sei ao certo dizer-te.

Transfusão energética da fusão atômica
Do desejo na dor.
O sofrer é apenas um estagio do viver.

Lavro-me as mãos em águas e calo-me os olhos,
Aos pés nada necessito.

O tempo é uma invenção errônea do homo-(in)pensantis
E se Deus não existe, tudo há de ser permitido.
Dostoievisk apaziguado.
Arde na memória acesa da pele dos amantes
Eis o fogo eterno... Hades apaixonado em seu próprio inferno.  
Eu em Pessoa não rezo, ouço Suassuna como um passarinho.

Meu coração não precisa ser composto de alguém
Já que solto na simplicidade vazia voa bem mais distante.

Luiz Henrique      21 de maio de 2012